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5G na prática: casos pioneiros em Portugal

5G na prática: casos pioneiros em Portugal

Depois de vários anos a contemplar o potencial do 5G, olhamos agora para os primeiros casos de implementação no país e a quinta geração de comunicações está a potenciar novas soluções tecnológicas

Depois de vários anos a falar sobre o potencial do 5G – e dos infames atrasos do leilão e rollout em Portugal – podemos agora, pela primeira vez, olhar para o que já está a ser feito com este potencial.

Falar de 5G é, na verdade, falar de tudo menos do próprio 5G – é falar dos projetos que, até agora, não poderiam ter sido postos em prática devido a limitações da conetividade disponível.

Como tal, muito pouco do que está a ser feito de momento com 5G é, em termos de conceito, revolucionário. A maior parte destas tecnologias tinham sido testadas e, em alguns casos, implementadas com sucesso em condições especificas. O que o 5G traz é a capacidade de as implementar em larga escala, de forma fiável, para lá do ocasional projeto piloto. A velocidade, baixa latência e robustez do 5G vem permitir implementar definitivamente soluções que foram testadas com recurso a 4G, Wi-Fi, Bluetooth ou mesmo Ethernet, mas que não eram escaláveis ou robustas o suficiente para apoiar processos operacionais críticos.

Sumol + Compal - Fábrica de Almeirim

 

Falar de 5G é, na verdade, falar de tudo menos do próprio 5G - é falar dos projetos que, até agora, não poderiam ter sido postos em prática devido a limitações da conetividade disponível

A fábrica da Compal em Almeirim, com uma área de 70 mil metros quadrados, e onde são processadas anualmente cerca de 25 mil toneladas de fruta, é atualmente palco de um projeto pioneiro de monitorização inteligente com recurso a 5G. Através da sensorização de todos os equipamentos na linha em que esta solução está a ser testada, será possível monitorizar, em tempo real, todo um conjunto de indicadores de performance de forma a otimizar a eficiência dos processos.

Diogo Lopes, IT and Digital Transformation Director at Sumol+Compal, refere que o projeto já tinha sido considerado, mas foi apenas viabilizado com o uso de 5G, dada a vasta área da fábrica, as exigências técnicas de um ambiente fabril, e a latência que tornam protocolos como o Wi-Fi e o 4G impraticáveis.

Desenvolvida pela NOS, esta foi uma solução chave-na-mão, na qual a digitalização das máquinas, construção do software e o fornecimento estavam incluídos num único serviço. Cada uma das máquinas na linha está ligada a uma antena 5G que irá enviar dados em tempo real para a cloud, onde serão então convertidos em indicadores de performance. “O que isto nos vai permitir é conseguir, em tempo real, perceber tudo o que se passa nas nossas linhas com as nossas máquinas em termos de eficiência operacional”, explica Diogo Lopes, referindo ainda que o objetivo é que um dia a fábrica disponha de um modelo de digital twins detalhado, onde tudo o que está a acontecer em fábrica seja representado de forma visual.

Este é um projeto que ainda está a entrar em produção na primeira linha, sendo posteriormente feito um rollout para as restantes em Almeirim, e depois para todas as fábricas.

“Aprendemos que não é só por se ter a tecnologia que as coisas se fazem facilmente: uma coisa é conseguir comunicar; outra coisa é saber o que estou a comunicar e porquê”


Diogo Lopes, IT and Digital Transformation Director na Sumol+Compal

 

Diogo Lopes relata também os desafios e aprendizagens deste projeto, a maioria dos quais não foram do foro técnico. “Aprendemos que não é só por se ter a tecnologia que as coisas se fazem facilmente: uma coisa é conseguir comunicar; outra coisa saber o que estou a comunicar e porquê. A parte mais difícil do projeto acabou por ser determinar que dados queríamos retirar das máquinas e como estruturar esta informação”.

Relata também a complexidade destes projetos de natureza multidisciplinar, que requerem flexibilidade para ajustar os imponderáveis tecnológicos que surgem nestes projetos.

Este projeto, e respetivas aprendizagens, vieram a estabelecer as bases de conhecimento e experiência para as próximas implementações: “O que sabemos é que as próximas linhas e os próximos projetos vão ser muito mais rápidos”, diz.

A Sumol+Compal está também a testar o uso de realidade aumentada para o suporte às operações de manutenção preventiva das máquinas das linhas de enchimento e embalagem Tetra Pak. Apesar de não estar ainda prevista a implementação destas soluções, Diogo Lopes relata que os testes demonstraram já um grande potencial.

Aconselhamento cirúrgico a 900 Kms de distância

Já na área da saúde, foi executada em maio deste ano a primeira cirurgia de cancro da mama com recurso a tecnologia 5G. O procedimento decorreu na Fundação Champalimaud, em estreita colaboração com a Altice Labs e a Movistar, com recurso a tecnologia de realidade aumentada para permitir o apoio remoto de um médico do Hospital Clínico de Zaragoza.

Dr. Pedro Gouveia, cirurgião da Unidade de Mama do Centro Clínico Champalimaud, esteve em contacto direto visual permanente e em tempo real com o cirurgião espanhol da mesma unidade, Rogélio Andrés-Luna. O cirurgião português estava equipado com óculos de realidade aumentada que lhe permitiram acesso real à paciente e, em simultâneo, a informações adicionais projetadas sobre as lentes especiais e indicações vindas de Espanha. Por seu lado o Dr. Rogélio AndrésLuna teve como instrumento de trabalho um portátil ligado aos óculos do cirurgião português, permitindo ver em tempo real a cirurgia e fornecer apoio à distância de 900 kms.

Para permitir conectividade, os óculos estiveram ligados por Ethernet/USB a um smartphone, que funcionou como router 5G, tendo a Altice Labs configurado, na sala de operações, uma rede privada da quinta geração de redes móveis.

A intervenção foi acompanhada no palco do Congresso da Associação Espanhola de Cirurgiões da Mama (AECIMA), na Faculdade de Medicina da Faculdade de Zaragoza

Município do Barreiro

Na sua jornada para se tornar numa smart city, o município do Barreiro já está a implementar soluções suportadas por 5G.

Na área das recolhas de resíduos, está a ser feita a monitorização dos contentores e camiões de recolha, de forma otimizar as rotas e reduzir os custos da operação. Sensores instalados nos contentores indicam o nível de enchimento dos mesmo, enquanto a rota dos camiões é monitorizada por GPS; ao final de um período de recolha de dados, estes serão utilizados para identificar ineficiências e otimizar o serviço de recolha, com uma poupança de combustível prevista na ordem de 20% e cortes de custos operacionais que podem superar os 40%.

Por outro lado, está também a ser testada uma solução de monitorização de trânsito com recurso a analítica de vídeo, instalada numa primeira instância na ligação da Avenida Parque da Cidade à Praceta Arsénio Duarte. Um sensor de imagem com capacidade de analítica de vídeo e conectividade 5G vai gerar dados como a contagem de veículos por tipo, a contagem de peões e a monitorização dos fluxos pedonal e rodoviário. O objetivo será poder otimizar o design urbano para adaptar a cidade às necessidades dos cidadãos, bem como melhorar a gestão de tráfego e eventualmente gerar alarmes com base na deteção de situações irregulares. No futuro, poderá ainda ser possível funções adicionais como detetar incêndios nas zonas verdes da cidade.

 

“O 5G dá-me tranquilidade de que os investimentos que estamos a fazer correm numa base fidedigna e abre uma panóplia de novas possibilidades que antes não tínhamos”


Rui Braga, Vereador da Câmara Municipal do Barreiro

O próximo passo, refere o vereador da Câmara Municipal do Barreiro, Rui Braga, será implementar um centro de comando e controlo na autarquia para integrar os seus diversos verticais, incluindo futuros projetos que o 5G poderá agora viabilizar.

“O 5G dá-me a tranquilidade de que os investimentos que estamos a fazer correm numa base fidedigna, e abre uma panóplia de novas possibilidades que antes não tínhamos”, refere. “É como tirar uma venda dos olhos: finalmente começamos a ver, diariamente, coisas que antes não víamos. É um mundo que se abre, perguntas novas que se colocam e quando tivermos toda esta informação compilada podemos começar a tomar decisões que libertarão o dinheiro dos contribuintes para investir noutras áreas da cidade”.

O vereador comenta ainda que “o caminho será continuar a sensorizar a cidade, em cima do 5G que é fiável, rápido e permite outro nível de projetos, para que no final consigamos ter uma cidade mais eficiente e com maior qualidade de vida para todos”. 

Município de Pombal

Também o município de Pombal implementou recentemente dois projetos de 5G, fornecidos mais uma vez pela NOS.

Pombal, que disfruta já de uma grande cobertura por 5G, havia já experimentado com esta tecnologia de comunicações durante a edição deste ano das Festas do Bodo, nas quais disponibilizou uma experiência remota das mesmas por realidade virtual.

Esta solução foi testada pela primeira vez pelo ministro da cultura, Pedro Adão e Silva, durante a Inauguração Oficial das festividades. Os percursos virtuais continuaram acessíveis durante todo o período das festas, sendo posteriormente usados pela Câmara para promoção do turismo da região.

Para além disto, o município utilizou também uma ferramenta de analítica de eventos para caracterizar a audiência presente no evento e o seu comportamento, bem como o impacto desta celebração na mobilidade na região, de forma a otimizar a próxima edição das Festas do Bodo. Mais recentemente, instalou um novo sistema inteligente de rega, instalado em dois jardins da cidade, que, estima-se, virá a permitir poupar até 30% em água e energia.

O serviço de rega inteligente foi conseguido através de um conjunto de sensores que recolhem, em tempo real, informação detalhada do consumo de água e energia e do estado das plantas. Estas informações, provenientes de sensores diversos em diferentes localizações, são processadas numa plataforma de gestão integrada que a cruza com informações meteorológicas para detetar os períodos ótimos de irrigação e a quantidade ideal de rega consoante as necessidades hídricas do terreno. Isto permitirá prevenir o consumo excessivo e maximizar os rescursos disponíveis, particularmente importante não só no contexto das mudanças climáticas como da atual situação de seca.

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