ENERGIAS
O fenômeno energético de Higashi Matsushima

O fenômeno energético de Higashi Matsushima

Os esforços de uma cidade do norte do Japão para reconstruir o seu sistema de energia elétrica após o terremoto e tsunami de 2011 marcaram uma mudança silenciosa do antigo modelo de utility do país para a geração e transmissão auto-suficientes locais.

Depois de perder três quartos de suas habitações e 1.100 pessoas no terremoto e tsunami de março de 2011, a cidade de Higashi Matsushima voltou-se para o "Programa Nacional de Resiliência" do governo japonês, com 3,72 biliões de ienes (28.13 mil milhões de euros) em financiamento este ano fiscal, para reconstruir.

A cidade de 40.000 habitantes decidiu construir microgrids e geração de energia renovável descentralizada para criar um sistema auto-sustentável capaz de produzir uma média de 25% da sua energia sem necessidade da uma central elétrica local na região.

Os passos tomados pela cidade ilustram um esforço enorme mas pouco reconhecido para retirar dezenas de cidades e comunidades do Japão da rede elétrica principal e torná-las parcialmente auto-suficientes.

"Na altura do terremoto não conseguimos garantir o fornecimento de energia, e tivemos de passar por dificuldades incríveis", disse Yusuke Atsumi, gestor da HOPE, a companhia criada por Higashi Matsushima para gestão da rede e geração elétricas locais.

Num sistema de energia tradicional, um "apagão numa dada área levaria a interrupções de energia em grande escala. Mas uma microgrid distribuída independente pode manter o fornecimento de energia mesmo que a área circundante tenha um apagão.”

O Programa de Resiliência é maioritariamente focado na criação de opções de back-up para as cidades do Japão em caso de outro desastre, como o terremoto e o tsunami que causaram o colapso da central nuclear de Fukushima. No entanto, o Programa estimulou a criação de microgrids e geração distribuída de energia em todo o Japão, o que reduz a dependência dos municípios em grandes centrais elétricas.

O governo do Japão procura aumentar o orçamento para o Programa em 24% para o ano fiscal com início em abril de 2018, segundo o gabinete. O financiamento reservado para este ano fiscal irá em parte para a criação de sistemas inteligentes de gestão de energia e sistemas de geração distribuídos em cidades por todo o Japão.

Redes distribuídas usam geração de energia a larga escala baseada em gás natural ou energia eólica e solar. Sistemas inteligentes de energia usam a internet para conetar appliances e contadores para direcionar a energia elétrica para onde é necessária quando é necessária.

Higashi Matsushima construiu a sua própria rede de transporte independente e painéis fotovoltaicos, bem como baterias para armazenar energia suficiente para manter a cidade em funcionamento durante pelo menos três dias, segundo Atsumi.

O foco de empresas Japonesas está a mudar em resposta às mudanças evidenciadas por cidades como Higashi Matsushima. Sekisui House, a maior construtora de “detached homes” do Japão, construiu a micro-grid inteligente de Higashi Matsushima para 85 unidades de habitação em 2016. Taisei Corp, uma das maiores empresas de construção do país, estabeleceu uma divisão de estratégia energética este ano para tomar partido da procura de sistemas inteligentes de energia. A empresa está a planear redobrar encomendas relacionadas com energia para cerca de 120 mil milhões de ienes ao longo dos próximos cinco anos, com foco nas energias renováveis, edifícios energeticamente eficientes e comunidades inteligentes, segundo um porta-voz.

Takao Kashiwagi, professor no International Research Centre for Advanced Energy Systems for Sustainability no Tokyo Institute of Technology, projetou a primeira cidade inteligente do Japão e lidera o New Energy Promotion Council, que pagou mais de 100 mil milhões de ienes em subsídios do Ministério da Economia, Comércio e Indústria para comunidades inteligentes de energia.

"Estamos a caminhar para um ponto em que deixaremos de construir centrais elétricas em larga escala. No seu lugar, teremos sistemas de energia distribuídos, onde pequenos sistemas de alimentação estão em funcionamento junto das áreas de consumo.”

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