SMART CITIES
Estratégia de dados é fundamental para o sucesso das smart cities

Estratégia de dados é fundamental para o sucesso das smart cities

A análise de dados tem um papel crucial para ajudar as cidades a reduzir as suas emissões, melhorar a mobilidade urbana e gerir as suas infraestrutura de maneira segura, sustentável e com uma boa relação custo-benefício

A Navigant Research está acompanhar o desenvolvimento de projetos de smart city em mais de 280 cidades em todo o mundo. Muitas outras cidades encontram-se nas fases iniciais do desenvolvimento da estratégia ou não estão a divulgar os projetos.

Esta tendência crescente também se reflete no mercado de soluções smart city, em rápida expansão, de acordo com um artigo de Eric Woods, research director, smart cities, da Navigant Research. A consultora estima que o mercado global de tecnologia smart city chegue a 97 mil milhões de dólares em 2019. Na próxima década, espera-se que o investimento acumulado atinja quase 1,7 biliões de dólares.

O crescente número de dispositivos de IoT implementados em todas as partes do ambiente urbano tem o potencial de mudar a nossa visão de como as cidades funcionam. Os desenvolvimentos em analítica e big data, machine learning, inteligência artificial e visualização de dados estão a fornecer aos administradores e líderes das cidades as ferramentas necessárias paraentender estes fluxos de dados.

Ao mesmo tempo, as cidades estão a desenvolver novas plataformas para a integração e partilha de dados, que estão a quebrar os silos de operação tradicionais e a abrir o acesso a todas as partes interessadas e possíveis fornecedores de soluções.

Por este motivo, os benefícios oferecidos pelo big data são um elemento importante de muitas estratégias de smart city. Por exemplo:

  • A análise preditiva dos padrões de tráfego e transporte pode reduzir o congestionamento e melhorar a eficiência dos serviços de transporte público.
  • Os recursos da cidade para segurança pública, assistência social e outros serviços essenciais podem ser direcionados de maneira mais eficaz usando informação atualizada.
  • Os programas de eficiência energética podem ser direcionados para famílias mais vulneráveis e a edifícios adequados para programas de modernização.
  • As plataformas de dados abertas podem aumentar o envolvimento dos cidadãos e incentivar novas formas de inovação entre developers e outros fornecedores de serviços.

A importância da analítica

A analítica tem um papel a desempenhar em todos os aspectos do serviço público e das operações da cidade. Os exemplos incluem:

A transição para cidades carbon-neutral

A analítica avançada tem um papel essencial a desempenhar, permitindo que cidades, empresas de serviços públicos e outros parceiros otimizem o fluxo de recursos e energia para atingir os seus objetivos de descarbonização.

A analítica é vital, por exemplo, na gestão eficiente de sistemas comunitários de energia com base em energias renováveis, tecnologias de armazenamento e micro-redes. Projetos como o programa Sharing Cities, financiado pela UE (liderado por Londres, Milão e Lisboa), estão a explorar o uso de dados de energia num sistema de gestão de energia sustentável (SEMS) que otimiza a produção e o consumo de energia em nível comunitário. O SEMS também se conecta à plataforma de dados urbanos mais ampla a ser desenvolvida como parte do programa.

Mobilidade otimizada

Os departamentos de transporte das cidades têm liderado a adoção de analítica avançada. Os dados em tempo real recolhidos de sensores e outros dispositivos estão a ajudar a otimizar as conexões entre diferentes modos de transporte para conseguir tempos de viagem mais rápidos, custos de operação reduzidos e uma maior conveniência por meio de serviços de informações otimizados para os utilizadores.

A cidade chinesa de Hangzhou implementou a plataforma City Brain da Alibaba para prever fluxos de tráfego e detectar acidentes como parte do seu sistema alargado de gestão de tráfego. O governo de Hangzhou credita esta plataforma pela sua passagem do 5º para o 57º lugar na lista das cidades mais congestionadas da China. 

Melhor gestão de ativos

A analítica permite que as cidades monitorizem e giram melhor uma ampla variedade de infraestruturas públicas e usem manutenção preditiva para reduzir riscos e despesas. Kansas City, Missouri, está a usar a analítica e IoT, além de infraestruturas sustentáveis, para poupar perto de mil milhões de dólares em despesas associados a um projeto de gestão inteligente do sistema de esgotos com um custo total de 4.5 mil milhões.

Benchmarking 

A análise de dados está também a ser  usada para fornecer novas idéias sobre o desempenho económico. Dublin faz parte de um grupo de cidades em parceria com a Mastercard sob sua iniciativa City Possible. Os insights das análises de despesas da cidade da Mastercard estão a ser usados como parte dos relatórios de monitorização económica da Câmara da cidade para compreender melhor os padrões de gastos de moradores e turistas e comparar o desempenho de Dublin com toda a Irlanda.

Desafios a enfrentar

Existe um enorme potencial para o melhor uso dos dados em todos os serviços urbanos, mas as administrações das cidades também têm alguns grandes desafios pela frente. Alguns desses são problemas comuns desde sempre associados a projetos de analítica em larga escala, como garantir a qualidade dos dados e entender os objetivos prioritários de cada aplicação.

Existem, no entanto, três desafios especificamente associados ao uso de big data e analítica para a gestão da cidade.

Integração de dados

O conceito de cidade inteligente mantem a promessa de integrar dados de várias organizações, ambientes diversos e uma ampla variedade de dispositivos inteligentes. No entanto, a integração de dados, mesmo dentro das organizações, é um dos maiores desafios do mundo do IT.

A adoção de standards de comunicação abertos no setor de IT e comunicações reduziu (embora não tenha eliminado) as barreiras técnicas, mas as barreiras políticas e organizacionais são geralmente as mais difíceis de resolver.

O atual foco no desenvolvimento de standards que possam orientar o desenvolvimento de cidades inteligentes é um passo importante para resolver estes problemas.

Privacidade de dados

O advento das smart cities está a criar grandes novos fluxos de dados com um enorme potencial para melhorar os serviços da cidade.

No entanto, isto também coloca as cidades na centro dos debates sobre a propriedade e uso de dados. A regulamentação nacional e internacional da privacidade de dados, como o RGPD, tem um papel importante a desempenhar na aceitação de muitas inovações em smart cities.

Ainda assim, algumas cidades sentem que precisam de ir mais além. A relação entre cidadãos, governo e fornecedores de serviços precisa de evoluir para enfrentar os desafios emergentes nesta área.

Isto continuará a tornar-se mais premente à medida que o uso de big data e IA se tornar onipresente na administração das cidades e em serviços públicos e privados. As cidades estão a perceber que têm de ser tão ativas na construção deste novo ambiente de dados quanto no planeamento e gestão de sua infraestrutura física.

A escassez de talento

A escassez de talento na analítica é talvez o maior obstáculo ao uso eficaz de big data para a gestão das cidades. A gestão e a análise de grandes volumes de dados e o obtenção de insights para conceber melhores políticas ou otimizar as operações requerem habilitações que são escassas no atual mercado de trabalho, principalmente no setor público.

Serviços cloud-based, parcerias público-privadas e estratégias de open data podem ajudar, oferecendo acesso a uma base de talentos mais ampla, mas a construção de relações mais fortes com entre cidades e instituições académicas é vital.

Muitas universidades já estão a trabalhar ativamente para ajudar as cidades a desenvolver estratégias económicas e de sustentabilidade, mas ainda podem fazer mais para ajudar as cidades a tomar partido dos seus recursos de tecnologia e dados.

Preparações para o futuro

As cidades inteligentes estão a dar entrada numa nova fase de desenvolvimento crítica, na qual o foco está em conseguir melhorias reais em relação às métricas e outcomes prioritários. Este desenvolvimento exige que a inovação digital e as perspectivas data-centric sejam incorporadas nos processos de concepção de serviços e planeamento das cidades.

O valor do investimento em tecnologias de smart city é, no fundo, alcançado através do uso de dados para melhorar a tomada de decisões, apoiar o controlo operacional em tempo real, aumentar a qualidade e a eficiência dos serviços e melhorar o envolvimento com cidadãos, empresas e outras partes interessadas.

A capacidade de tomar partido de dados altamente granulares em tempo real numa ampla variedade de operações e serviços mudará a maneira como o ambiente urbano é gerido e experienciado. Para se prepararem para este novo ambiente, as cidades precisam de estabelecer uma estratégia de dados, aumentar a sua capacidade de análise e trabalhar com parceiros, incluindo companhias de eletricidade, para estabelecer um fundo comum de dados que possa favorecer todos os envolvidos.

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