ENERGIAS
SF6: o efeito secundário das energias renováveis (e fósseis)

SF6: o efeito secundário das energias renováveis (e fósseis)

A indústria de eletricidade – incluindo das energias renováveis – é atualmente responsável por 80% do total de emissões anuais de gás SF6d, o equivalente a uma média de 1.3 milhões de automóveis particulares a conduzirem cerca de 24 mil milhões de quilómetros por ano

A energia produzida pelo setor renovável em Portugal aumentou consideravelmente e de acordo com o Boletim da APREN, no período compreendido entre Janeiro e Março deste ano, 2020, a geração de eletricidade por renováveis era de 69,9% vs os 30,1% de energia fóssil. Contudo, e embora o boom de energia verde, com enormes benefícios para o ambiente, existe uma consequência não intencional mas muito perigosa que passa despercebida, esclarece a Eaton, especialista de energia: o aumento das emissões do gás com efeito de estufa mais nocivo conhecido, o SF6.

O hexafluoreto de enxofre, ou SF6, é amplamente utilizado na indústria elétrica dentro do aparelho de distribuição – desde grandes centrais elétricas a turbinas eólicas e subestações elétricas – para prevenir curtocircuitos e problemas de vários tipos, reduzindo as hipóteses de acidentes elétricos e incêndios. Apesar disso, este gás encabeça a lista dos gases com efeitos de estufa mais nocivos (GHG), uma vez que é 23.500 vezes mais potente que o CO2 e permanece na atmosfera durante 3.200 anos.

Ironicamente, um recente estudo na utilização e emissões de SF6 tem estado em grande parte ligado ao boom da energia verde. Mas tendo em conta que existem alternativas seguras aos comutadores sem SF6, porque é que a indústria da eletricidade não está a fazer mais para limpar este “segredo”, juntamente com o boom da energia limpa, e porque é que os regulamentos anteriores da EU sobre gases fluorados não chegaram ao ponto de proibir o uso de SF6?

2020 poderá ser um ano histórico, também para a utilização do SF6, uma vez que a Comissão da EU publicará um relatório até ao final do ano que avaliará se existem alternativas rentáveis, tecnicamente viáveis e fiáveis, sem SF6, para comutadores secundários de média voltagem. Se o regulamento não for atualizado, arriscamo-nos a ver esta consequência extremamente perigosa e involuntária do boom da energia verde continuar a ter um impacto negativo nos esforços internacionais para controlar o aquecimento global. 

Mas para entender o quão perigoso é o SF6, José António Afonso, responsável de Commercial Building da Eaton Ibérica, esclarece que “durante todo o ciclo de vida de um equipamento, as suas fugas podem chegar aos 15% e, só em 2017, na Europa, as emissões de SF6 filtradas foram equivalentes a 6,73 milhões de toneladas de CO2. Isto é o mesmo que uma média de 1.3 milhões de automóveis particulares a conduzirem cerca de 24 mil milhões de quilómetros por ano.” E conclui “A indústria de eletricidade é atualmente responsável por 80% do total de emissões anuais de gás SF6 e acredita-se que a base instalada global de produtos com gás SF6 ainda cresça 75% numa década, até 2030. É uma ironia cruel que uma indústria tão dedicada ao combate às alterações climáticas esteja a contribuir inadvertidamente para as emissões de gases com efeito de estufa.”

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