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Portugal está a meio da transformação digital

Portugal está a meio da transformação digital

Maior pontuação na escala de maturidade digital está relacionada com elevados níveis de produtividade, valorização dos colaboradores e aumento da rentabilidade das organizações

Um novo estudo que avalia o ponto de situação digital das empresas e indica que Portugal está no segundo de quatro níveis de maturidade digital. “O Caminho para um Portugal Biónico: a maturidade digital do tecido empresarial em Portugal” foi publicado pela Boston Consulting Group (BCG), pela Google e pela Nova SBE, com base nas respostas de mais de mil empresas nacionais. O relatório mostra ainda que a digitalização está diretamente relacionada com os níveis de produtividade e os salários médios das organizações, e que, apesar da intenção das empresas em utilizar o digital como motor das estratégias, existe ainda alguma inércia na aplicação a áreas relevantes, nomeadamente funções de suporte, operações, oferta ao cliente e abordagem a novos mercados.

Bernardo Correia, Country Manager da Google, confere que “as ferramentas digitais foram uma tábua de salvação para muitos durante a pandemia e a maturidade digital das organizações foi essencial para a sua capacidade de resistência aos seus impactos económicos” e “apostar em tecnologia, nas ferramentas certas, e nas competências digitais continuará a ter um importante papel como catalisador numa retoma que se quer inclusiva”.

A pandemia revelou-se um enorme desafio à agilidade das empresas, exigindo rápidas respostas às mudanças das necessidades dos consumidores, com a adoção de canais e modelos digitais, mesmo em setores e empresas mais tradicionais. No retalho alimentar (61%) e na banca (47%), o aumento do tráfego online entre o pré e o pós-pandemia é um indicador da tendência.

No entanto, Portugal ainda está longe de ser alcáçar o nível de maior reconhecimento - Digital Leader -, segundo o Digital Acceleration Index (DAI), índice utilizado peça BCG para observar o ponto de situação da maturidade digital do tecido económico de um país com base no nível atual e desejado de digitalização das empresas. Até agora, Portugal consolida o seu lugar como Digital Literate, com um total de 31 em cem pontos, 21 pontos abaixo da média europeia, que se encontra no patamar dos Digital Performers. Pedro Pereira, Managing Director e Partner da BCG, explica que “Portugal tem um importante e ainda longo caminho pela frente, mas a concretização de uma visão de maturidade digital para o país é possível e depende da coerência dos esforços das empresas e das instituições públicas” e acrescenta que “a bazuca europeia não será solução para todos os problemas, mas pode ser um elemento importante se Portugal conseguir posicionar-se para retirar partido dela”.

Todavia, a adoção digital é heterogénea entre as organizações, acentuada pela correlação direta entre o setor e o tamanho das empresas e a maturidade digital. As médias empresas lideram a transformação, com 45 pontos, que sugere que a sua dimensão lhes confere mais dinamismo e agilidade em relação às grandes empresas. Já as pequenas empresas ficam atrás no índice com 25 pontos. Os setores de IT, Media, Telecomunicações (TMT) e Serviços lideram na digitalização, podendo mesmo ser comparados a padrões internacionais, já a Indústria Alimentar e o Comércio, mais dispersos, estão em desvantagem. A Construção e as Indústrias Pesadas estão na cauda da maturidade. Embora o setor das Instituições Financeiras apresente uma pontuação superior à de muitos setores a nível nacional, está 12 pontos abaixo da média europeia, o que a torna vulnerável em relação à concorrência internacional. De forma semelhante, o setor dos Bens de Consumo Duráveis está 11 pontos abaixo da média dos pares europeus.

O estudo indica que o nível de maturidade aumenta a produtividade das empresas. A pontuação DAI explica 9& da variação da produtividade e cada ponto DAI adicional reflete um aumento de 2% na produtividade média das empresas, o que significa que um salto de escalão DAI poderá equivaler a um aumento de 50% da produtividade média. “Sabemos que, em Portugal, as novas gerações são as mais preparadas de sempre, pelo que a sua progressão nas organizações dará um importante contributo para a transição digital”, reflete Daniel Traça, Diretor da Nova SBE.

A média dos salários tende também a aumentar nas empresas com maior maturidade digital. Uma transição completa no estágio de maturidade está, estatisticamente, associada a um aumento de 37% do salário médio, o que é explicado pela aposta das empresas em mão de obra mais qualificada. Traça acrescenta que “segundo dados do Eurostat, em 2019 existia uma faixa dos 55 aos 64 anos em que o nível de literacia estava abaixo da média europeia (28% vs. 40%), mas também uma população portuguesa, entre os 16 e os 44 anos, com um nível básico, ou superior, de competências digitais acima da média na União Europeia, posicionando-se, em particular, a faixa entre os 16 e os 24 anos no top 10 da UE". 

O fortalecimento do investimento está também correlacionado com o aumento de maturidade digital. 65% das Grandes empresas investem mais de 0,5% das receitas no digital e aqueles que aplicam mais de 2% têm, em média, mais 14 pontos de maturidade que as que investem abaixo desse valor. Isto revela que as Médias empresas, que apresentam uma maturidade mais avançada, têm trabalhado de forma mais eficiente, já que 60% investem mais de 0,5% das suas receitas. Por outro lado, nas Pequenas empresas, 60% investem menos de 0,1% das suas receitas. 

Para além de um problema de financiamento, o grau de desconhecimento dos instrumentos também levanta sinais de preocupação. Assinala-se uma falta de literacia digital em algumas componentes da maturidade, nomeadamente, uma em cada cinco empresas desconhece a sua realidade face à tecnologia IoT e 40% revelam desconhecer a aplicabilidade do digital às suas operações. Isto também se reflete na maior dificuldade que as Grandes empresas sentem em oferecer condições suficientes para contratar os colaboradores certos para o digital, apesar de 70% afirmar ter lançado iniciativas de capacitação de equipas. Já nas Médias empresas, o desafio é definir e priorizar os projetos certos para consolidar competências e motivar as pessoas, e nas de pequena dimensão a dificuldade é encontrar os colaboradores com as competências necessárias, sendo que 30% afirma ter iniciado projetos de formação para o digital.

A maturidade digital promete uma posição competitiva e mais rentável e as instituições nacionais e europeias têm um papel preponderante ao assegurar um contexto propício à transformação digital, com recursos humanos e financeiros e um ambiente regulatório equilibrado. Apesar da existência de medidas de apoio, mais de metade das empresas analisadas neste estudo não conhece qualquer programa de financiamento ao Digital e esta é uma realidade transversal a todos os segmentos empresariais. Nas Médias e Grandes empresas portuguesas há várias lacunas digitais estruturais, que as afastam do padrão europeu, como a Indústria 4.0, Metodologias Agile, Personalização e Marketing Digital e Governance de dados.

O estudo conta que as diferenças de ambição de desenvolvimento digital são notórias entre os setores. Para 2022, as empresas de Média e Grande dimensão apontam o Marketing Digital, a Investigação e Desenvolvimento de produto e a oferta de novos serviços como as áreas prioritárias de desenvolvimento. Em contrapartida, as Indústrias Metalúrgica e Automóvel parecem estar conformadas com a posição que assumem na escala e o seu foco concentra-se nas dimensões que impactam a experiência do cliente. As Pequenas empresas na área da Educação são as mais ambiciosas, em oposição às de Saúde e Retalho, sendo que nestes o foco de melhoria está na digitalização da cadeia logística e no melhor e maior aproveitamento dos dados.

O estudo propõe a definição de objetivos claros e pragmáticos, com um maior foco na tecnologia, que promete maximizar as probabilidades de sucesso. No entanto, o bem-estar da força de trabalho é também parte integrante do processo de maturidade digital, garantindo a aprendizagem por praticabilidade, a monitorização dos processos e consequente responsabilização sobre o progresso.

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